Uma alimentação desequilibrada pode alterar as funções intestinais e acarretar em várias doenças
Ir ao banheiro com regularidade pode melhorar seu humor e também ser um sinal de que a saúde vai bem. Mas, quando aparecem disfunções intestinais é preciso ficar de olho: elas podem estar ligadas a diversas condições autoimunes! Por isso, não ignore qualquer sintoma diferente.
“Quadros de depressão, ansiedade, estresse crônico e doenças autoimunes podem começar no intestino”, avisa Dra. Raisa Paula Ferreira de Araújo. Veja como isso acontece: na borda do intestino existem células epiteliais, que são ligadas às proteínas de membrana apertada, chamadas tight junctions. Essas células regulam o que tem que passar e o que não pode passar pelo órgão. “Então, quando temos um quadro de hiper permeabilidade intestinal — gerado por uma alimentação incorreta, devido à idade, disbiose, uso de medicamentos ou alterações genéticas — as tight junctions deixam de ser “apertadinhas” e começam a se alargar”, explica. Isso faz com que xenobióticos, que são componentes causadores de doenças provenientes da nossa dieta e do nosso estilo de vida, saiam do intestino e caiam na corrente sanguínea.
A consequência disso é que o nosso corpo começa a produzir anticorpos contra essa inflamação e, assim, a atacar órgãos distantes. Isso dá início a manifestação de várias doenças não só intestinais, mas também fora do intestino — entre elas, as autoimunes e as respiratórias.
Uma doença autoimune é um defeito do sistema imunológico, que, inapropriadamente, passa a produzir anticorpos contra nós mesmos. Em vez de produzir anticorpos somente contra vírus, bactérias ou outros agentes invasores nocivos, o sistema imunológico cria anticorpos que apresentam dificuldades em distinguir uma bactéria ou vírus de uma proteína natural de um órgão ou tecido do nosso organismo.
Na tireoidite de Hashimoto, por exemplo, que é uma doença autoimune da tireóide, quando consumimos glúten, ele estimula os compostos da zonulina (proteína humana) que atuam como um zíper, descompactando as firmes junções de membrana (tight junctions) , a partir disso, ocorre uma migração de células de defesa para a luz intestinal, o que permite que alimentos e bactérias passem para corrente sanguínea gerando uma produção exagerada de anticorpos.
“Por isso, quando um paciente chega ao consultório com um diagnóstico desse tipo, não se pode pensar em tratar somente a patologia. É imprescindível que o tratamento comece no intestino, retirando os alimentos alérgenos e inflamatórios, como leite e glúten”, afirma Raisa. Caso não resolva apenas com melhora dos hábitos e alimentos inflamatórios já conhecidos, a médica explica que é recomendado pedir um teste alimentar específico e retirar da dieta o que causa intolerância e inflamação
Uma condição que também altera a permeabilidade intestinal é a aterosclerose, que faz com que diminua a chegada de sangue ao órgão, reduzindo a reparação tecidual e a insuficiência cardíaca congestiva, que gera uma hipóxia intestinal.
E não pense que os lactobacilos são a solução para todos os problemas intestinais. Eles podem ajudar, mas antes, é preciso regular a alimentação e retirar os alimentos alérgenos seguindo sempre a regra dos 6 “Rs”:
1.Remover bactérias nocivas, parasitas e alimentos prejudiciais.
2.Reparar a parede intestinal
3.Restabelecer o funcionamento adequado, absorção e sua eliminação
4.Reequilibrar a saúde com mudanças de estilo de vida, atividade física, sono, redução do estresse
5. Reinocular probióticos e prebióticos
6.Reavaliar as condições de saúde após o primeiro ciclo do programa e se for necessário repeti-lo
Então, perceba que muitos processos inflamatórios do corpo podem começar no intestino. “A melhor coisa a fazer é procurar um médico, caso perceba alguma alteração no trato intestinal, além de manter uma alimentação equilibrada, é claro!”, finaliza Raisa.